
Minha experiência em Senna
Quando Eduardo Schaal e Rick Ramos, ambos do estúdio de pós produção Quanta, me convidaram para participar da série Senna - show da Netflix que conta a tragetória da lenda do automobilsmo -, eu sabia que estava diante de uma grande oportunidade de me ligar com meu passado.
Assim como milhares de brasileiros na minha idade, eu vivi o fenômeno que foi a era Senna, e trago comigo indeléveis as memórias nostálgicas daquele tempo inacreditável que ficou para trás. Senna foi o mais próximo que tive de um ídolo ao longo da minha vida, embora nem de longe ele o seja, no sentido de que enxergo o tricampeão como um homem comum em suas camadas, qualidades e defeitos, contradições e conflitos. Ter a oportunidade de participar de uma produção que contava a história do herói nacional, recriar as corridas que eu incontáveis vezes havia assistido e ainda assisto, pois que tenho todas as corridas do Senna no meu HD, era uma oportunidade única.
Eu estava no projeto há alguns dias de forma remota, quando a equipe da Quanta sentiu que era necessário estar mais próximo para que as coisas ficassem realmente afinadas. E qual minha surpresa quando em uma video chamada eu ouvi: "Alex, você estaria disposto a vir para São Paulo amanhã e trabalhar presencialmente conosco por três semanas?".
Aqui é preciso citar um traço da minha personalidade. Eu preciso de rotinas e de previsibilidade. Não funciono sem isso. E "vir para São Paulo" é completamente o oposto disso. Não apenas quebra a minha rotina, como torna impossível qualquer previsibilidade dentro dos requisitos que preciso manter para mim. Em qualquer outra situação eu diria um retumbante "não"; e de fato, eu pensei por alguns segundos nesse "não", mas dois fatores me refrearam: o primeiro. eu estava em um período de baixa reserva financeira, algo muito comum na vida de um freelancer. Não havia como abrir mão do trabalho; e segundo, era uma oportunidade para ver a produção da série de perto. No fim, com aquele arranhado na consciência, eu disse "sim".
Em São Paulo minha rotina consistiu basicamente entre ir do airbnb para a produtora, e da produtora para o airbnb durante os mais de vinte dias que ali estive. Não mudei a rota em nenhum momento, e não visitei absolutamente nada em São Paulo. Trabalhei quase de domingo a domingo, e no único fim de semana que tive livre permaneci trancado no quarto. Portanto o meu foco nessas trẽs semanas foram exclusivamente o meu trabalho na série.
Dos desafios encontrados por mim no projeto, o maior foi com toda certeza o de animar os carros de Formula 1 da era Senna para o sistema de Virtual Production da Quanta. A grande vantagem disso pra mim está no fato de que, desde a primeira cena da série, o meu trabalho está em absolutamente todos os episódios. Algo fantástico pra qualquer fã.
Aliás, como animador de personagens na maior parte do tempo, eu nunca havia animado carros daquela forma. Mas foi a minha conhecida paixão por Formula 1 que levou Schaal e Ramos a me convidarem para o projeto. Eles sabiam que,mais do que qualquer outra coisa, eu seria um animador familiarizado com a velocidade e trajetória dos carros nas pistas. E estavam certos, pois me senti à vontade nesse quesito.
Foram três semanas animando ao lado do supervisor de VFX Marcelo Siqueira, o Sica, e também na companhia do inacreditável Álvaro Mamute, um cara com características únicas que deveria por si só render um artigo. Álvaro é um dos roteiristas da série e um dos idealizadores. O que essa pessoa é em suas capacidades, é algo que só quem teve o oportunidade de conhecê-lo pode compreender.
Como prêmio pessoal, ficou para mim o saldo super positivo de ter trabalhado na série do meu "herói" de infãncia e adolescência; a chance única de ter finalmente conhecido pessoalmente Eduardo Schaal e Rick Ramos, dois colegas de profissão por quem nutro adimiração há décadas; o prazer de trabalhar com Mamute, Sica e Camila; e o de fazer parte presencialmente da equipe Quanta sob a batuta de Hugo Gurgel. Posteriormente fui contratado pelo estúdio e extendi minha jornada de forma remota por mais sete meses, aproximadamente, e tive a oportunidade de outros trabalhos interessantes.
Voltando à Manaus ainda pude trabalhar por mais um mês para outro estúdio animando em cenas off-board para a série, especialmente cenas da corrida de Mônaco 88. Embora eu tenha saído do projeto pela parte deste estúdio bem antes da conclusão, e por isso não ser possível saber quanto do meu trabalho foi mantido ou alterado - ou até descartado no render final -, reconhecer na série shots que eu trabalhei pessoalmente também me deu um prazer gigantão.
Participar de Senna me trouxe grandes desafios pessoais, mas também grandes felicidades e emoções pelas quais serei sempre grato.
